Já à alguns anos atrás, acompanhando os Campeonatos do Mundo de Corta-Mato, fixei-me numa entrevista dos gémeos Castro, sempre candidatos a lugares cimeiros, onde abordavam a especificidade daquela disciplina em Mundiais. Habituados a efectuarem grande parte da época de Cross nos podiuns por essa Europa fora, integrando desde o início das corridas o pequeno grupo de atletas da liderança, referiam a grande dificuldade de, em Mundiais, correrem os primeiros quilómetros inseridos num grupo muito numeroso muitas das vezes com 15/20 atletas na sua frente, situação que sentiam afectá-los psicologicamente.
Com a possibilidade que tive de competir vários anos a nível internacional, rapidamente percebi a grande diferença entre estes dois patamares (nacional / internacional) e a problemática do transfere de uma situação para a outra.
Cada atirador trabalha em competição em diferentes contextos que, apesar de variáveis, assumem determinada consistência no seu percurso. A mim, como treinador, preocupam-me os atiradores que desde jovens ganham sistematicamente Circuitos competitivos com poucos participantes, habituando-se a ganhar encontros demasiado desnivelados desde o início em provas onde se está sempre às portas das finais. Desfruta-se assim um "sucesso confortável" que pode no entanto dificultar o transfere para o plano Internacional. Numa prova internacional cada jogo é uma final. Jogamos uma Poule onde não podemos falhar sob pena de automaticamente ficarmos eliminados e, passando à fase seguinte, seguem-se os jogos de eliminação directa cujo percurso até aos primeiros lugares prevê uma sucessão de 3 ou 4 encontros de grande dificuldade normalmente com resultados muito apertados.
É necessária uma constante planificação de tarefas (treinos e competições) que coloquem nos momentos certos os atiradores em situações próximas daquelas que vão encontrar em termos internacionais, de forma a dar aos atletas condições para esse transfere.
Porque vem a propósito aqui fica um exemplo dessa preocupação bem aqui do lado da nossa vizinha Espanha. Na época de apuramento para os Jogos Olímpicos de Atenas, o espadista Sepúlveda efectuou muitas competições e estágios internacionais, permanecendo grandes períodos fora do País. Quando estava em Espanha, apenas realizava assaltos nas competições pois, segundo o seu treinador, num ano que culminaria com uma prova de apuramento para os Jogos Olímpicos era fundamental jogar sempre com adversários de grande dificuldade para manter aquele ritmo e nível de exigência. Assim, planearam para as permanências em Espanha os períodos de trabalho técnico, mantendo-se longe da comodidade dos jogos "fáceis".
Por curiosidade, Sepúlveda viria a não conseguir classificar-se para Atenas perdendo na prova de apuramento o jogo decisivo por 13/12 frente ao Suíço Marcel Fisher... que veio a sagrar-se Campeão Olímpico.
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