Porque passamos muito tempo juntos a pretexto da esgrima, muitas são também as situações em que extrapolamos as nossas vivências para além do contexto desportivo.
Lembro-me bem dos "longínquos" tempos de atleta no Ateneu Comercial de Lisboa com sessões de treino bem longas e abrangentes, que se iniciavam lá pelas 20h com uma extensa "futebolada", seguida dos tradicionais exercícios de Esgrima, complementados com uma sopinha num dos restaurantes da rua já com o relógio a assinalar a passagem para o dia seguinte. Era um ambiente tão engraçado que até havia um dos praticantes que chegava sempre muito tarde, sem equipamento e que dizia "... não se preocupem, eu venho só para a sopinha".
É neste contexto, em que assumidamente a Esgrima é apenas um dos elementos que nos vai mantendo ligados, que aproveitamos para ir aprendendo alguma coisa com as vivências pessoais de cada um.
Um dia veio à conversa um tal de trabalho prático de Filosofia - 11º ano. Tinha então a professora colocado à discussão a análise de uma situação utópica muito simples -"Seria um aluno capaz de comer a perna do colega do lado?". Rapidamente seguimos as deduções lógicas facilitadas pelo absurdo do exemplo que, à luz da razão e da tranquilidade do contexto em que debatíamos o tema, de forma alguma tornavam concebível tal disparate. No entanto animados pelas diversas argumentações começámos a verificar que, se o contexto fosse diferente, talvez as respostas fossem menos racionais. E se se tratasse de uma situação de sobrevivência? E se...? E se...?
E lá fomos concluindo que mesmo uma atitude à primeira vista totalmente disparatada e irracional toma diversas formas consoante o contexto e os dados do momento.
O Mundo do Desporto também está atento a este tipo de situações e premeia aqueles que se distinguem por uma atitude de elevada correcção, mesmo em contextos aparentemente desfavoráveis. O prémio Fair-Play do Comité Olímpico de Portugal, atribuído desde 1981, volta este ano à Esgrima através do atirador Joaquim Videira sendo esta a 4ª vez que esta distinção recai sobre a nossa modalidade. José Veiga Ventura em 1989, eu próprio em 1994 e João Borges em 2000 completam os Esgrimistas eleitos.
De facto, é sempre mais fácil analisar os outros nas mais diversas situações porque se lá estivermos nós... quem nos garante que nos comportaremos como pensamos?
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