Dos 10 aos 14 anos joguei Futebol. Ao serviço do Vitória Clube de Lisboa cumpri 1 época de Infantil, 2 de Iniciado e 2 de Juvenil, até que as dores de crescimento nos joelhos (e isto foi não crescendo muito) me atiraram para a bancada, da qual "caí" para o Pentatlo Moderno chegando assim à Esgrima.
Quando juvenil, integrado numa equipa de luxo de onde saíram alguns jogadores para equipas de primeiro plano, ganhava 25 escudos por cada vitória (se bem me lembro, tratava-se de uns dinheiros disponibilizados por 2 ou 3 pais que visavam recompensar o desempenho da rapaziada). Quando o jogo era frente ao Benfica, o "prémio de jogo" (nome técnico atribuído aos 25 escudos) triplicava. Tendo em conta que na altura o bilhete de cinema às segundas-feiras era 25 escudos, os 75 escudos dos grandes jogos eram um prémio considerável. A verdade é que nunca ganhei esse valor porque, infelizmente (até porque teria um gostinho adicional por ser Sportinguista), nunca ganhei ao Benfica. De facto, na minha opinião, os 75 escudos estavam bem colocados com a função de premiar um determinado desempenho, mas desengane-se quem pense que os mesmos 75 escudos conseguiriam incentivar a nossa performance trazendo aos nossos passes a precisão que não tinham, aos dribles a ilusão que não criavam e aos remates a força e direcção que lhes faltava.
Vivi como esgrimista o aparecimento das Bolsas para os Atletas assim como dos Prémios monetários em função dos quadros alcançados nas Taças do Mundo, Europeus e Mundiais. Na realidade, elas não eram mais do que uma extensão dos Prémios e Bolsas previstos pelo Estado, para os Atletas de Alta-Competição e mais tarde do denominado Projecto Olímpico, fazendo apenas chegar a níveis de desempenho inferiores um sistema monetário que servia para... Premiar, Apoiar e Remunerar.
Quanto à função - Premiar - não vejo qualquer impedimento à aplicação monetária, desde que esta se refira a desempenhos competitivos de distinção e que os valores em questão sejam realistas, diferenciando o nível da competição e o escalão etário.
A função - Apoiar - é uma das mais importantes, desde que o valor dos apoios varie de acordo com as necessidades de cada um e não seja estandardizado por um regulamento que, visando proporcionar igualdade de direitos, promove desigualdades e limitações (basta ver por exemplo a questão do apoio de material, nivelado por uma tabela em função do nível do atirador, e as diferenças de desgaste que cada um promove).
O que de facto temos andado a fazer é simplesmente a Remunerar uma determinada quantidade de treino previamente estabelecida, exigindo determinados desempenhos como fruto desse investimento. Incentivar? Não me parece... Pressionar? Talvez... Benefícios?...
Remunerar é importante, mas deve estar separado do Apoio e do Prémio e aplicado numa fase mais avançada da vida desportiva do Atleta de Competição. Remunerar possibilita a longevidade do Atleta (e digo Atleta, não Praticante). Não que este se possa tornar profissional, porque nisto do desporto nacional, sem bola nos pés, é complicado encarar essa possibilidade. A Remuneração permite-lhe investir nos seus objectivos desportivos, sem pôr em causa as suas necessidades básicas, tal como um jovem estudante o faz com um parte-time nos tempos livres, ou um trabalhador em início de carreira o faz com um segundo emprego.
Que não se pense que defendo o culto do desgraçadinho, muito pelo contrário. Espero sinceramente que também o Esgrimista Português possa ter as condições plenas para apostar numa carreira desportiva. O que me custa é aceitar que, por falta dessas reais condições, estejamos condenados ao fracasso.
Porque até vem dentro do tema, aqui fica um excerto da entrevista do marchador João Vieira ao Jornal A Bola, após a conquista da Medalha de Bronze nos 20Km dos Europeus de Gotemburgo - 9/8/2006.
"A Bola - Imagino como será difícil em Portugal haver alguém a viver só da Marcha.
João Vieira - E imagina bem. Desde 1999 que vivo em exclusivo para a marcha, simplesmente porque recebo 750? por mês da Preparação Olímpica, senão...
AB - Com 750? por mês deve ser ginástica no orçamento, na marcha não há grandes cachets, não há grandes prémios.
JV - Olhe, é a vida. No País em que estamos, como estamos, quem não faz, afinal, sacrifícios para sobreviver? Eu sou só mais um de tantos milhões. E faço-os por gosto, acabo por ter recompensas como esta, que não têm preço.
AB - Patrocínios...
JV - Não, não tenho.
AB - Subsídios Camarários...
JV - Também não. Apenas o dinheiro da Preparação Olímpica e o que o Clube me dá que dá para um par de sapatilhas e pouco mais.
AB - Talvez esta medalha mude...
JV - Não sei, o que sei é que não me mudará a mim. Quero continuar a ser o João Vieira de sempre, quero apenas que não me chateiem a cabeça, que me deixem andar tranquilamente na minha!"
A falta de condições no desporto nacional é uma realidade incontestável. E se comparadas com grande parte dos "Países adversários"... o melhor é nem comentar. Não se diga é que é impeditiva de Sucesso. Dificulta muito, mas não mata o Sonho. Os recursos são escassos mas, se bem organizados, permitem continuar a acreditar que é possível fazer mais e melhor.
Quando olho para a minha carreira de Esgrimista considero que, no final, as contas até devem ter andado perto do investimento merecido. O que é verdade é que sinto que, muitas vezes, fui Premiado quando deveria ter sido Apoiado, Remunerado quando deveria ter sido Premiado e Apoiado quando deveria ter sido Remunerado.
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