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Na noite de sábado, sentados na rua do hotel, fazíamos o balanço do primeiro dia de prova na Taça do Mundo de Ponte de Sôr. Ainda a digerir alguns dos acontecimentos da jornada procurei fazer um balanço global reforçando os aspectos onde tínhamos estado melhor - preparação do material, garra e determinação - e reflectir em conjunto na procura dos "porquês" para tantos erros tácticos ocorridos durante a prova - acções mal escolhidas em alturas determinantes, jogos mal conduzidos, trocas desnecessárias de estratégia.
Após alguns minutos de conversa, onde cada um expressou as suas opiniões, deparámo-nos com o problema que viria a ser o mais debatido. "Se dizem que jogamos bem e temos qualidade, porque não ganhamos?", "Será que somos mesmo bons?", "O que é que nos falta?".
Tenho para mim, sem qualquer fundamento científico, que o nosso maior problema é centrarmos a nossa confiança nas fraquezas do adversário e não na força das nossas capacidades. Observamos um adversário ofensivo na esperança de encontrar um defeito nos seus movimentos, ao invés de registarmos essa intenção de ataque como um bom sinal para o conquistarmos com a força da nossa defesa. É também desta forma de raciocínio, centrado nas incapacidades do outro, que resulta a falta de confiança nos embates com Italianos, Franceses e Russos, pois atribuímos-lhe qualidades esgrimisticas pelo simples facto de pertencerem a estas fortes Nações. Em pouco tempo perdemos a noção do nosso próprio valor, reduzimos as nossas capacidades, não aplicamos os nossos conhecimentos e a derrota torna-se "inevitável". Jogamos com medo de perder, enquanto os nossos adversários jogam para tentar ganhar.
Cerca de 12 horas mais tarde começávamos a ter respostas para as nossas questões da véspera. Pelas 9h o João Cordeiro infringia a primeira das 4 derrotas aplicadas à forte delegação Italiana ao longo do Dia. Mais à frente Filipe Pequito passava também ao quadro de 16 com uma vitória sobre um Austríaco, juntando-se mais tarde o jovem Nuno Milharadas, colocando fora da competição o Belga que 8 dias antes tinha inviabilizado a passagem de Pequito ao quadro de 64 em Bratislava. Pelas 11h45 Pequito iniciou a sua série Transalpina, alcançando um lugar entre os finalistas com vitórias sobre Parisela e Canevari. Ao lado, o jovem Milhas confirmava-se como a surpresa da jornada, afastando o Americano Duncan e o Italiano Di Nucci, colocando-se também na final. Com os dois Portugueses já só estavam o Venezuelano Limardo e o Israelita Beskin, números 2 e 3 do Ranking Mundial. Num assalto irrepreensível tacticamente, Pequito colocava-se na finalíssima afastando Beskin da prova com uns claros 15/7, num jogo onde apenas cometeu um erro, atacando fora da distância quando já vencia por 4/1. Na segunda meia-final Milharadas ainda esteve em vantagem até aos 9 toques, vindo apenas a ceder a liderança do encontro na parte final.
Se os Portugueses são bons e têm qualidade? Que interessa a minha opinião? O que eu sei é que não é por obra do acaso e muito menos por sorte, que se colocam dois atiradores no podium entre o nº 2 e 3 Mundial.
E já agora... que claque fantástica esteve na bancada de Ponte de Sôr. O Nuno e o Filipe jamais esquecerão aqueles cânticos. A mim... recordou-me Turim, onde o entusiasmo nas bancadas fazia lembrar um estádio de Futebol. Verdadeiramente arrepiante.
Parabéns a Todos.

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