Dizer que estes Campeonatos da Europa correram mal (tipo… azar) é o mesmo que considerar que os Mundiais de Turim… correram bem (tipo… sorte).
Já diversas vezes referi como tenho dificuldade em lidar com este tipo de expressões, onde a responsabilidade dos desempenhos parece sempre ser um pouco obra do acaso e não o produto de todo um trabalho que envolve atletas, treinadores e dirigentes.
Se olharmos com atenção para os Mundiais de Turim, para além do super desempenho do Joaquim Videira e do resultado de grande nível a que o João Gomes já nos habituou, aquela prova mostrou um outro indicador de grande importância. Pela primeira vez, um vasto conjunto de atiradores amealhou inúmeras vitórias a 5 toques e ultrapassou adversários em assaltos de eliminação directa, expressando nos números uma esgrima mais consistente, mais alegre, mais determinada... mais internacional.
Os Europeus que agora terminam, mais do que “lamentados”, têm que ser analisados com sentido crítico e construtivo. “Época longa”, “Cansaço”, “Desmotivação”, “Falta de condições”, etc., etc. serão sempre, na minha opinião, respostas fáceis que nos desviam da real lacuna neste momento – Definição de um Projecto.
Sem um Projecto claramente definido continuaremos ao sabor dos Talentos que milagrosamente surgem num universo de praticantes tão reduzido como o nosso.
Só a definição de um Projecto pode sustentar um planeamento consistente, definindo os diversos níveis de objectivos e estruturando o trabalho a realizar nas diferentes etapas em que os atiradores se encontram.
Planear é cada vez mais a tarefa mais difícil de executar no mundo do ensino e do treino. A eficácia do trabalho está na resposta à especificidade das necessidades de cada atleta. Se nos perguntarmos a cada momento porque escolhemos para este atleta um determinado exercício no treino, ou o número de repetições, ou tempo de duração da lição, ou o nº de treinos na semana, ou determinada prova ou estágio, ou…… tomamos verdadeiramente consciência de que estamos perante a mais árdua tarefa como treinadores, mas ao mesmo tempo é nesse momento que estamos a mexer na capacidade de promover sucesso.
Planear é ainda mais complexo porque mais do que definir e organizar o que vai ser feito é abrir as portas à adaptação consciente. O plano é o guia, mas a adaptação do plano é o “segredo”. Surge assim a importância do registo do que é feito. Sem registo não se pode analisar, sem se analisar só se pode adaptar… ao acaso.
Na revista on-line do site da Federação Espanhola pudemos acompanhar durante vários meses um estudo realizado sobre as cargas de treino na esgrima, contemplando nº e duração de lições, assaltos efectuados, toques dados e recebidos e mais alguns dados importantes. Um estudo efectuado com rigor cientifico pelo Mestre Szepesi, que tive o privilégio de ter como Mestre de Sabre no curso que fiz em Budapeste. O seu estudo só foi possível porque durante os 12 anos que esteve à frente da Selecção Francesa registou todo o trabalho efectuado com os atiradores. Hoje fala-nos dos porquês das suas modificações no treino ao longo desse período, com base nos dados que sempre recolheu. Talvez este tenha sido o segredo das suas 8 medalhas Olímpicas.
Reflectir sobre a Esgrima Portuguesa e definir um Projecto é um trabalho conjunto de todos os intervenientes, porque...
...o Europeu não correu mal, assim como Turim… não foi por acaso.
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