Débora Nogueira qualificou-se para os Jogos Olímpicos de Pequim ao classificar-se em 2º lugar no Torneio de Apuramento Olímpico realizado no passado dia 26 de Abril e que definia os últimos apurados para o palco máximo do Desporto Mundial. Com este resultado, Débora Nogueira passa a ser a segunda mulher na História da Esgrima Nacional a participar nos Jogos Olímpicos, 48 anos depois de Maria José Nápoles que representou Portugal em Roma 1960.
Débora Nogueira acedeu de imediato ao convite que lhe endereçámos para uma entrevista e é com enorme satisfação que aqui damos a conhecer um pouco melhor a mulher que, 48 anos depois, volta a pôr a Esgrima Feminina Portuguesa nos Jogos Olímpicos.
NF – Olá Débora, deixa-me felicitar-te uma vez mais pela tua qualificação para Pequim e agradecer-te a tua pronta disponibilidade para esta entrevista. Sendo o sonho de todos os atletas competir nos Jogos Olímpicos, o que sentiste no momento em que tornaste o teu sonho em realidade?
DN – Nem sei bem, descrever a sensação que é. Logo no momento senti uma euforia enorme mas depois passei para a fase da apatia, não estando a acreditar no que se estava a passar, ainda não acredito bem.
NF – E agora que já passou uma semana como olhas para aquele dia e para a excepcional prova que fizeste?
DN – Olho como o dia mais feliz da minha vida e todos os dias me lembro dos ultimos dois segundos.
NF – Descreve-nos como foste vivendo as várias fazes do Torneio Pré-Olimpico, uma vez que, embora a prova tivesse apenas 8 atiradoras, a poule poderia deitar tudo por terra logo na primeira fase e, mesmo passando essa fase, a qualificação necessitava ainda de duas vitórias a 15 toques frente a atiradoras melhor posicionadas no Ranking Mundial.
DN – O primeiro jogo da poule apesar de ter perdido até joguei bem, mas depois durante a poule houve fases menos boas, um dos assaltos ate estava a ganhar 4-1 e fui perder. A poule não correu muito bem, passei em 5º lugar para a fase seguinte. No primeiro jogo fui jogar com a bielorussa. Antes de jogar o meu treinador transmitiu-me uma serenidade e confiança que me deixaram muito calma e concentrada. Esse jogo ganhei 15-11, fiquei muito feliz e a partir daí comecei a acreditar e a ver a vitoria perto. Quando fui jogar com a Holandesa estava muito cansada, foi um jogo em que tive de me concentrar muito, logo cansei-me mentalmente muito mais. Em ambos os jogos tive que me mexer muito e fazer dai a minha superioridade.Neste jogo da meia final estive sempre a ganhar mas, quando cheguei aos 14-10, faltavam poucos segundos logo não quis arriscar, acabando ela por dar 3 toques e acabar o tempo. Acho que deixei o público com os nervos à flor da pele.
NF – Se é verdade que, à partida, não eras uma das favoritas o que hoje mais se fala é da determinação e o crer com que jogaste cada toque. Acreditaste sempre que era possível? Foste acreditando à medida que foste avançando? Não pensaste em nada disso e foste apenas jogando toque a toque?
DN – Fui jogando sempre toque a toque (como diz a Tulia), mas comecei a acreditar depois de ganhar à bielorussa mas ao mesmo tempo não estava a pensar no 15º toque. Fui deixando fluir.
NF – Achaste importante esta prova ter sido em Portugal? Qual a sensação de jogar com uma claque numerosa?
DN – Achei importantissimo. Eu não custumo gostar de claques, mas sem dúvida que esta claque fez a diferença toda, foram fenomenais.
NF – E agora como vai ser a preparação para os Jogos Olímpicos?
DN – Dura e vai ser mais complicado de gerir com a faculdade, mas também só se vai aos Jogos de 4 em 4 anosJ.
NF – Numa modalidade como a nossa em que o sector feminino está tão carenciado de atletas, de que forma pensas que esta tua qualificação para os Jogos Olímpicos pode contribuir para aumentar o número de raparigas na Esgrima?
DN – Eu espero que pelo menos as que fazem esgrima se sintam motivadas para continuar. Acho que esta vitoria não é só boa para mim, para o sector feminino vai ser óptimo também.
NF – Para ti que fizeste o percurso todo - desde o desporto escolar até aos Jogos Olímpicos - que conselho darias aos nossos jovens atiradores que hoje preenchem os Circuitos Infantil e Juvenil, dando os primeiros passos na vertente competitiva da Esgrima?
DN – Terem um sonho e depois força de vontade para concretizarem esse sonho.
NF – Porque o sucesso desportivo, expresso no desempenho dos atletas, transporta também o empenho de, treinadores, familiares e amigos, queres aproveitar para deixar aqui alguns agradecimentos especiais?
DN – São muitas a pessoas a agradecer, essencialmente ao meu treinador que acreditou, esforçou-se e motivou-me para conseguirmos. Ao meu namorado que se fartou de ouvir historias de esgrima sem perceber nada e me apoiou sempre. A todas (todas mesmo) as pessoas que treinam comigo e aos treinadores que tive, a atletas que se tornaram amigos, À Cristina Camera (sem ela a esgrima portuguesa já não existia) aos meus pais e familiares, Ao GCP e até à propria Federação que tem vindo a melhorar um pouquito as apostas no feminino. Aos meus amigos. Uma palavra também para a Halcon viagens que me patrocinou este ano.Espero não me estar a esquecer de ninguem, obrigado a todos, foram incriveis, esta é uma vitória que quero partilhar com todos, ainda estou radiante.
NF – Para que possamos conhecer um pouco melhor a Débora Nogueira terminamos esta entrevista com um conjunto de perguntas rápidas, tipo parada/resposta: » Data de Nascimento - 26.10.1985 » Habilitações Literárias - 3º ano de arquitectura na universiadade lusiada de lisboa » Ídolo - João Gomes e a Trilini » Clube - Ginásio Clube Português » Um Filme - Harry Potter » Um Livro - Harry Potter » Um(a) cantor(a) ou banda musical - the hives, artik monkeys » Uma Comida - japonesa e pizza » Uma viagem de sonho - camboja, vietname e tailaindia
Cara Débora desejamos-te as maiores felicidades para os Jogos Olímpicos e para toda a carreira desportiva que se seguirá a Pequim. Em Guarda. Pronta? Continuar.
Comentarios
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Foi estrondoso o entusiasmo que senti em todos com quem falei.
Muito obrigado pelo que fizeste (se me é permitido falar em nome da Esgrima Portuguesa)
Não leves sorte para Pequim. Leva “apenas” tudo o que te deu ânimo para conseguires o que já conseguiste.
Muitos e MUITOS PARABÉNS!!!!