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Clube Atlântico de Esgrima

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O nosso "gordito"... PDF Versão para impressão Enviar por E-mail

Decorria o verão de 1996 e, integrados nas Férias Desportivas de S. Domingos de Rana, 6 crianças ficavam maravilhadas com a esgrima. 2 meses mais tarde nascia no mesmo local a Escola Viactiva de Esgrima e os 6 não tardaram em inscrever-se. 4 deles andavam na casa dos 12/14 anos e os dois mais jovens com 7/8 anitos faziam uma dupla de inseparáveis amigos muito caricata. Um muito “magrito” e pequenito cheio de jeito. E um sorridente “gordito”, bem maior que o “magrito” e muito trapalhão, sempre a tropeçar nos próprios pés.

No segundo ano, já em representação da Junta de Freguesia de S. Domingos de Rana, iniciámos a participação nos Quadros Competitivos da Federação. Com o grupo já um bocadinho mais alargado, o “magrito” e o “gordito”, jogavam no Circuito de Passarinhos (os Benjamins de hoje) que era jogado por equipas de 3, na companhia de um outro pequenito irrequieto de nome André.

Ao longo da época todos os assaltos eram discutidos com grande equilíbrio e entusiasmo, do qual recordo com especial carinho, uma final disputada em Valadares frente à equipa feminina de Viana. Perdíamos à entrada para o último jogo por 21/24 e o nosso “gordito” lá entrou para o assalto final que terminava aos 27. Dotado de uma atabalhoada mas eficaz parada de 6ª (bem larga e de cotovelo para fora), lá foi recuperando até 26/26. No toque decisivo, o nosso “gordito” conseguiu fazer acender a luz e a explosão de alegria foi imediata. Acabávamos de conquistar a nossa primeira vitória e todos saltavam agarrados ao herói do momento que, soluçando, me disse quando o felicitei – “Eu…eu…eu, acho que me apetece cho… chorar”, ao qual lhe respondi com um abraço – “chora à vontade”.

No final da época o Circuito de Passarinhos terminava com uma prova individual, somando cada atirador os pontos de Ranking aos pontos obtidos pela equipa nas restantes etapas. A prova terminava com o nosso “gordito” e o “magrito” no quadro de 8 o que os colocava empatados na liderança do Ranking Final.

O nosso “gordito” ganhava assim o seu primeiro grande troféu neste complexo mundo da esgrima.

O tempo ia passando e o nosso “gordito” lá ia seguindo, sempre com grande entusiasmo e dedicação. No primeiro ano de iniciados, deu nas vistas com algumas entradas no podium em 3º lugar, o que ia sugerindo que no ano seguinte, com os mais velhos a subir aos cadetes, se poderia afirmar na luta pelos primeiros lugares mas… a verdade é que no 2º ano de iniciado raras foram as vezes em que o “gordito” entrou no quadro de 8, sendo afastado diversas vezes bem cedo, ora por este adversário, ora por aquele.

Por incrível que pareça, a verdade é que… não dava sinais de desanimar com os resultados, mantendo sempre o mesmo sorriso e entusiasmo. Começavam a emergir dois traços que iriam caracterizar os anos seguintes do nosso “gordito”. Por um lado uma grande inconstância no seu desempenho, por outro uma capacidade incrível de levantar a cabeça e voltar ao trabalho após cada desaire.

No primeiro ano de cadete, após uma terrível época de iniciado, surgia a primeira vitória numa prova individual, na primeira etapa do Circuito Juvenil realizada em terras algarvias. Foi um dia de grande festa assinalado com uma jantarada nas pizzas oferecida à distância pela mãe do nosso “gordito”. Comemorava-se não só a sua primeira vitória mas também a primeira vitória do Clube numa prova individual.

No final dessa época, o nosso “gordito” arrancou para férias com o seu “metro e sessenta e tal” mas quando regressou em Setembro trazia as mesmas feições num corpo com mais de “metro e oitenta” e tão esguio que me obriga a referir-me a ele daqui para a frente como o nosso “ex-gordito”.

No 2º ano de cadete, o nosso “ex-gordito” destacava-se no ranking a par do seu mais “recente companheiro” de equipa. A época estava lançada com o grande objectivo de ir ao Mundial de Cadetes. O nosso “ex-gordito” e o seu “recente companheiro” destacavam-se discutindo entre si as provas (com vantagem para o “recém companheiro”). No Nacional desse ano, os dois tinham estado tão acima da concorrência e com bons desempenhos no escalão acima, que havia a esperança que um bom resultado no Campeonato Nacional pudesse ajudar a que a FPE seleccionasse os dois. Uma prematura eliminação no quadro de 8 atirava o nosso “ex-gordito” para a solidão da bancada já sem esperança em ouvir o seu nome na convocatória que seria anunciada no final do Campeonato. Nesse momento são chamados à pista os seleccionados e, após a chamada do seu “recente companheiro”, ouve-se o nome do “ex-gordito” que, incrédulo, corre emocionado para a pista protagonizando com os seus colegas de clube “recente companheiro” e “recente companheira” (também seleccionada) um abraço que, quem teve a felicidade de assistir, jamais esquecerá.

Nesse Mundial de Cadetes dava-se inicio a uma outra dura realidade que iria caracterizar os anos seguintes – as derrotas 14/15 em jogos onde vencíamos 14/12 ou 14/13. Após 3 vitórias na poule, o nosso “ex-gordito” passou directo ao quadro 64 onde defrontava um forte atirador Russo. O assalto foi emocionante com o resultado a chegar a 14/12. O 15º toque teimou em não chegar e a reviravolta no resultado foi dura e marcante.

Chegaram os primeiros dois anos de júnior e a inconsistência de desempenho foi mantendo o “ex-gordito” numa segunda linha de atiradores, longe dos primeiros 3, pese embora com uma característica engraçada. A vitória nas duas épocas na 4ª Etapa do Circuito Nacional Júnior. Como se aquela prova lhe estivesse reservada, naquele dia, o nosso “ex-gordito” era imbatível e conquistava o Título derrotando todos os seus adversários directos.

Mas tal como no longínquo 2º ano de iniciado, quando tudo corria a favor da desmotivação, lá surgia o nosso “ex-gordito” a dar uma lição de persistência e determinação.

Durante o 2º ano de júnior decidi propor-lhe a troca de punho (anatómico para francês). Por incrível que parece, o momento que achei ideal para lhe falar nisso foi logo após a sua vitória na Juniores4. A resposta foi simples e rápida – “Embora” – sem sequer me deixar terminar a exposição das minhas razões para a troca. É assim o nosso “ex-gordito”, para o bom e para o mau, raramente a sua resposta foge de – “Tudo bem. Está tudo bem”. Relembro aqui um treino de fim de época onde estávamos a jogar voleibol e, na recepção de uma impulsão o nosso “ex-gordito” pisou o pé de um colega caindo no chão com dores. Claro que a sua resposta face à nossa preocupação foi – “está bom, está tudo bem”. Jogou até ao final do jogo (determinado como sempre) mas… com o pé partido.

A presente temporada foi a última de juniores do nosso “ex-gordito”. Ao contrário das épocas anteriores, os seus desempenhos passaram a ser mais consistentes. A verdade é que já não tinha aqueles dias em que os seus desempenhos eram negativos sendo afastado cedo nas provas mas… também não ganhava. A Juniores 4 não foi sua, embora compensasse com uma vitória na juniores 5. Internacionalmente os resultados não eram comprometedores mas… ficava sempre aquém daquilo que tinha demonstrado na pista. Fim-de-semana após fim-de-semana lá voltamos com mais um 14/15 num assalto onde tinha dominado até aos 14/12 ou 14/13. Foi assim em Gotemburgo, foi assim em Burgos. Em Helsínquia os nossos “ex-gordito” e “ex-recente companheiro” estavam em grande forma derrubando todos os adversários que lhes surgiam pela frente e, lá estava o infortúnio a colocar os dois no mesmo caminho no quadro 16 travando a caminhada a um deles. Estava mais forte o seu “ex-recente companheiro” e o nosso “gordito” voltava a ficar pelo caminho.

No Mundial a pancada foi ainda mais dura. Em boa forma, o nosso “ex-gordito” realizou uma poule um pouco abaixo das suas possibilidades e enfrentou no quadro128 o Russo que viria a ser Bronze. O jogo esteve equilibrado até aos 8/8, momento em que o nosso “ex-gordito” foi demolidor colocando o resultado em 13/8. Chegado a esse momento tudo se transformou e o “fantasma da recuperação” voltou à pista e toque após toque o jogo foi virando até 13/14. No fim, um duplo atirava por terra todo o trabalho feito e, com mais um 14/15 terminava ali mais um dia do nosso “ex-gordito”.
 
Não sabia o que lhe dizer… como confortá-lo… parecia perseguição. Perdíamos quando sentíamos que éramos capazes e não quando o adversário nos tinha anulado. Tão perdido estava na minha missão de tentar confortá-lo que, a sensação que tenho, é que até foi ele que me confortou a mim naquele momento.
 
Como sempre, voltávamos a casa e o “ex-gordito” já estava de cabeça levantada, mergulhando novamente no trabalho.
 
Muitas vezes nas nossas conversas lhe dizia (embora não acredite em destinos) “Se ainda não foi desta é porque está reservado um momento especial para ti.”. E estava mesmo. O Título de Campeão Nacional Individual e de Equipas, conquistado no Centenário do Campeonato Nacional Sénior.
 
O nosso “ex-gordito” chama-se Pedro Arede, é o meu atleta mais antigo e, ao seu ainda curto percurso desportivo, temos a agradecer:
 

  • A demonstração que o verdadeiro sucesso é a capacidade de nos colocarmos a caminho de um objectivo.
  • A demonstração que a Esgrima de competição é compatível com o Sucesso nos Estudos.
  • A demonstração que se pode construir um grupo unido e coeso respeitando as características individuais de cada um.


Para mim é uma satisfação fazer parte do percurso do Pedro e um privilégio ter de meias ás riscas tantos outros que, dentro da sua individualidade, têm a grandeza do Pedro.
 
Parabéns Campeão

 

arede_cccccccccaaaaaapppppp 

Comentarios (5)

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Pois é pedrocas..só te conheci como "ex-gordito" (mas ainda com o toquezinho de trapalhão=P)..como sabes, sempre te admirei pela pessoa fantástica e grande exemplo que és para todos nós e por essa capacidade de levantar a cabeça sempre que as coisas correm mal..
sempre te disse e acreditei que um dia ia virar!um dia ia ser teu!pessoas trabalhadoras como tu,só merecem sucesso!
és um grande colega e acima de tudo um grande amigo..é para mim um privilégio conhecer-te!
Beijinhos da "ex-recente companheira"=)*
Sara Nascimento , 28 de Maio de 2008
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se o trabalho la esta...tudo e mais facil smilies/cheesy.gif e se somos trabalhadores por natureza...o dia chega e kando chega e tao mas tao especial...que mais dias virao n tenho duvidas!
e inda por cima numa modalidade como a nossa estamos simplesmente a trabalhar para "o DIA" desejando k depois fikemos por la smilies/cheesy.gif GAND PEDRO k fim de semana fantastico smilies/cheesy.gif abracos
KaKa , 28 de Maio de 2008
Era engraçado...
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Estava eu ao lado do Nuno a ver o início do assalto com o Videira e vem o Miguel Amaral por trás e diz "era engraçado, não era?". E concordamos "era, muito!.."
O facto é que, mesmo depois de ter ganho ao Kaká e ao Pequito, ainda havia dúvidas que o Pedro pudesse ganhar ao Videira. Porque o Pedro, tirando todas as coisas grandes e pequenas que tem a esgrima, é uma excelente pessoa e, inconscientemente, todos achamos que as vitórias não estão destinadas às excelentes pessoas. Que é necessária uma certa impureza para lá chegar.

O facto é que o Pedro foi imperial. A excelente pessoa ganhou de forma determinada e inequívoca. Não houve um único instante do assalto que levantasse a possibilidade da derrota. Até um esboçar de um sorriso quando lá fez uma asneira mostrou que o campeonato era dele. E a maior das lições que o Pedro deu a todos os que tínham dúvidas de que ele ia ganhar, eu incluído, é que, depois de marcar o 15º toque, ele ainda era uma excelente pessoa.
Obrigado, Pedro. Que o segundo centenário seja feito de campeões assim.
João Cruz (sénior) , 28 de Maio de 2008
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Pois é Pedrocas...e assim é a história de um campeão!
De muito suor, muito trabalho, dedicação e de levantar a cabeça e seguir em frente e continuar a trabalhar com a mesma dedicação.

És uma exemplo a todos os níveis, Pedrocas!!!

E esta foi bem especial, não?!Campeão de Seniores Individual e de Equipas no centenário do campeonato...

Foi uma vitória muito merecida!
Muitos Parabens Pedrocas!!!
smilies/wink.gif
isabel guerreiro , 30 de Maio de 2008
Pedro \"O Grande\"
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Ainda no outro dia te vi no Circuito de Passarinhos. Foi um instante até hoje. Gostava de ter assistido a esta vitória e é com orgulho que leio tudo o que aqui ficou escrito. Parabéns Pedro!
Sara Bento do Ó , 03 de Junho de 2008

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