As competições de Esgrima têm algumas características muito particulares, quando comparadas com os modelos competitivos da maior parte das modalidades desportivas.
A eminência de ser eliminado da prova, não podendo continuar a jogá-la até ao fim, situação que pode acontecer no final da poule (conjunto de 5 ou 6 jogos de 5 toques), ou em cada quadro de eliminação directa (jogo de 15 toques) é uma das características determinantes. Para melhor compreender o que isto significa e a pressão que coloca nos jogadores, podemos fazer o exercício teórico de aplicar este conceito a algumas modalidades que conhecemos. Para tal temos que imaginar que, por exemplo numa corrida de atletismo haveria uma regra que impedia de continuar a correr os atletas que se atrasassem mais do que x minutos da frente da corrida. Num exercício de ginástica, o atleta era interrompido quando cometia um determinado número de erros, num campeonato de futebol as equipas que obtivessem x derrotas seguidas eram eliminados e não poderiam continuar no campeonato. Etc., etc., etc…
De facto, a possibilidade de ser eliminado acrescenta aos atiradores o – Medo de Falhar – e, muitas vezes, é esse medo de falhar que os impede de obter um melhor rendimento. Que não se pense que este é um problema que não atinge os atletas de topo. No último Europeu de Seniores, o Italiano Diego Confalonieri, após a segunda vitória na poule (e ainda com 4 jogos pela frente) virava-se para o treinador e, com algum nervosismo, disse – “só me falta uma” – ao que o Treinador lhe perguntou – “uma quê?” – e ele respondeu – “uma vitória para passar”.
No desporto e na vida, todas as decisões têm o seu risco e tal como numa poule, a diferença está entre aqueles que jogam para passar a poule, com uma prestação a medo, baseada em objectivos mínimos, com uma satisfação a partir do ponto em que asseguram essa passagem e que os impede de fazer mais vitórias e aqueles que, sentindo-se preparados para voar mais alto arriscam para obter algo mais. Arriscam-se a falhar mas, ao contrário dos primeiros, põem todas as suas capacidades em campo, sem medo de perder, colocando-se em condições de vencer a poule.
Muitos de nós revemo-nos nestes “fantasmas” da competição numa ou outra história que já vivemos. Sentimo-nos traídos pelos nossos receios e, no fim, achamos sempre que poderíamos ter feito mais. A verdade é que muitas vezes, na próxima vez voltamos a não dar o passo em frente e lá nos refugiamos no objectivo de não falhar o mínimo, ficando depois longe do nosso máximo.
Mudar é difícil… Existe sempre alguma relutância às alterações e, por vezes, lá ficamos a tirar água de um barco que pouco mais pode fazer do que sobreviver sem ir ao fundo. Mudar é entrar no desconhecido, no imprevisto, sem saber se o que vem a seguir é menos do que se obteve até então.
A verdade é que, em tudo o que nos rodeia, podemos sempre tentar apenas “passar a poule” e, dessa forma, o mais certo é falharmos poucas vezes. Jogando para ganhar a poule… algumas vezes podemos até sair mal mas, se estivermos preparados e acreditarmos nas nossas capacidades… chegaremos lá acima muito mais vezes do que aquelas que imaginamos.
Comentarios
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Autoconfiança é adquirida, com a ajuda de todos, família, amigos, colegas, treinadores e trabalho Apesar de eu ser um adepto novato da esgrima, já pude ver e sentir que neste clube, existe muito trabalho realizado por detrás do que vemos em competição; os elementos mais velhos são o cartão de boas vindas e de apoio aos mais novos, estando bem patente a amizade, a educação, o fairplay, a união entre todos os que constituem a equipa, o clube, conseguindo até ultrapassar aquela "barreira" clubística e alastrar toda esta riqueza por todos os atletas e equipas técnicas (e clubes) presentes nos variados torneios realizados, independentemente das vitórias ou derrotas de cada um.
Um bem haja ao Clube Atlântico de Esgrima!!!