Tendo estado envolvido no desporto nos mais variados âmbitos, desde espectador a treinador, passando por praticante, atleta, irmão de atleta, ajudante de treinador, monitor, dirigente, repórter e, provavelmente mais alguma vertente que de momento não me ocorre, sou agora também
um recém-chegado ao grupo dos – Pais de Desportistas.
É nessa condição, juntando-lhe a vivência como filho desportista de Pais de Desportistas e o acompanhamento privilegiado, na condição de treinador, da dinâmica familiar de diversos Desportistas e seus Pais, que resolvi abordar o tema..
Num tema tão vasto e tão rico de aspectos a tratar vou-me hoje centrar naquele que considero ser o momento mais difícil neste papel de Pais de Desportistas. A fase em que os filhos Desportistas “afastam” os Pais desde “Seu” Mundo do Desporto. Quantos Pais já assistiram a conversas, ou monólogos, deste género:
Tipo Informativo
“Pai, Mãe desculpem lá mas eu não gosto que vocês assistam às minhas competições. Dá-me azar”
Tipo Semi-Informativo
“Então filho(a) como correu a prova?”
(Resultado abaixo das expectativas) – “Silencio” (Bom resultado) – “… ah. Normal” (Excelente resultado) – “… Bem”
Nota – Respostas dadas normalmente a caminho do quarto ou da casa de banho, ao qual se segue um jantar sem grandes descrições, ou mesmo sem elas, do dia desportivo
Tipo Não-Informativo
“Então como correu?” “Hoje não quero falar disso”
“Então mas como foram os resultados? Em que lugar ficaste?” “Desculpem… hoje não”
Claro que não pretendo fazer generalizações pois tenho lidado com muitas famílias em cerca de 20 anos ligado ao ensino e cada uma tem a sua dinâmica e os seus códigos de comunicação. O que é verdade é que existe um grande número de Pais de Desportistas que, principalmente na fase em que o Desportista passa de Praticante a Atleta (desportista com carácter competitivo), lidam com esta questão de serem “afastados” desta parte da vida dos seus filhos e não sabem como lidar com a situação (até porque esta fase, que normalmente acontece no pico da adolescência e no início da idade adulta, tem já conflitos de sobra nas áreas dos estudos e das afirmações sociais).
O que sobre isto pode ser dito é essencialmente dirigido aos Filhos Praticantes/Atletas, pois para os Pais tenho poucas respostas ou mesmo nenhumas. E mesmo aos Filhos Praticantes/Atletas (porque esta também é uma idade onde têm sempre razão e, mais do que isso, os adultos estão sempre errados e a ver mal as coisas) só lhes posso transmitir alguns exemplos de outros como eles.
A verdade é que já assisti a alguém, que também não gostava que os Pais assistissem às suas competições, a telefonar aos Pais pedindo-lhes para “voarem” os 50Km que os distavam do local de uma importantíssima competição onde ele(a) se tinha classificado para as meias-finais que se disputavam dentro de 30 minutos.
O que também vos posso dizer é que um dos grandes prazeres que a esgrima me deu foi desfrutar da alegria com que o meu pai mostrava aos seus colegas do trabalho os poucos recortes de jornal em que eu ou o meu irmão saíamos e o brilho que tinha nos olhos quando o visitávamos no Banco e algum colega lhe dizia – “Então este é que é um dos campeões?”.
Por último talvez lembrar que nunca encontraremos em nenhuma bancada um apoiante tão presente como os nossos Pais, para quem, qualquer que seja o resultado, desde último a primeiro, seremos sempre uns Campeões e nunca nos abandonam, premiando o nosso esforço.
Como Pais, é indescritível a sensação de ver os filhos nos seus desempenhos, como filhos, só temos que descobrir o prazer de lhes proporcionar e partilhar com eles esses momentos. O problema é que, uma vez que somos Filhos antes de ser Pais, corremos o risco de só entender isto tarde de mais.
E porque no desporto há sempre muito a aprender com os atletas mais velhos, no próximo fim-de-semana são estes que não podem desperdiçar os ensinamentos que os mais novos têm para lhes dar. É que a 19 de Abril disputa-se mais uma etapa do Circuito Infantil – sub 12 e sub 10 anos – e esta é uma idade em que os Pais só não estão lá se não puderem e os filhos só não os levam com eles para a pista… porque o árbitro não deixa.
Pais e Filhos Desportistas devem encontrar a sua forma de viver o desporto. Respeitando o espaço de cada um, mas vivendo-o em conjunto.
   
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