1h da manhã de domingo, 12 de Agosto de 1984.
Completamente ensonado, acordo com o despertador que programei para me arrancar da cama e transportar-me até à sala, frente à televisão, para assistir à maratona masculina dos Jogos Olímpicos de Los Angeles.
Tinha combinado acordar o meu pai lá mais para a frente da corrida, caso Carlos Lopes estivesse na discussão das medalhas, o que cumpri lá pelas 2h50 da madrugada, altura em que a passagem aos 35Km colocava Lopes, o Irlandês Treacy e o Britânico Spedding isolados no grupo da frente.
Com os 5Km entre os 35 e os 40, corridos em 14 minutos e 33 segundos, Lopes foi demolidor e entrou no Estádio Olímpico completamente isolado com uma passada “fácil” e cerca de 200 metros de avanço para Treacy.
Estava conquistada a primeira medalha de Ouro Olímpica do desporto Português e, eu e o meu pai, éramos apenas dois dos muitos Portugueses que tiveram a felicidade de viver em directo este fantástico momento.
Com o feito de Lopes a cumprir as Bodas de Prata, o jornal “Record” de 11 de Agosto trouxe de novo Carlos Lopes para as páginas centrais da imprensa escrita, com uma entrevista muito interessante que tive a sorte de ler, dada a minha condição de leitor de jornais desportivos em tempo de férias e da qual aqui transcrevo algumas partes que reforçam um dos aspectos que considero mais importantes num atleta de competição:
“… a maratona de Los Angeles foi preparada por mim meticulosamente. E nada falhou, desde os treinos, ao andamento e à própria antevisão da corrida. Estava muito confiante e sabia que tudo dependia de mim.”
“Tinha estudado os meus adversários e sabia onde eles iam atacar…”
“A parte mais difícil estava feita e fiquei consciente que a vitória só dependia de mim. Sentia-me preparado para aguentar todos os andamentos e todas as subidas.”
“… Se tivesse perdido, o único culpado era eu que não estava à altura.”
A confiança de um atleta tem que ser construída na força das suas capacidades.
Todo o trabalho desenvolvido nos treinos, nas competições, no estudo e na reflexão tornam-nos mais fortes e mais capazes, ao longo de um percurso que vai desenhando a história da carreira desportiva de cada um.
O caminho mais fácil em competição é escondermo-nos na culpa dos “outros”, quer antecipadamente, nos habituais disparos em direcção às faltas de apoios – Federações, políticas desportivas, etc., etc… (comum por esse mundo fora), quer durante e pós competição – nível dos adversários, arbitragem, etc., etc… (também comum por esse mundo fora), arranjando justificações externas para aquilo que não conseguimos fazer.
A outra hipótese é trabalharmos no “Eu”.
Quer o resultado final seja positivo ou menos positivo, o importante é o que “Eu” vou fazer ou o que “Eu” podia ter feito melhor.
Só assim “Eu” evoluo. Só assim, um dia, “Eu” poderei dizer como o Carlos Lopes – “Só dependia de mim” - e, nessa altura, "serei" um verdadeiro Campeão... qualquer que seja o resultado final.
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