Em tempo de fase final do Mundial de Futebol, Esgrima e “Mundo da Bola”, que felizmente por um lado e infelizmente por outro, nada têm a ver um com o outro, aproximam-se por força das semelhanças no formato da competição.
Reparei nesta situação à uns anos atrás, por altura do Europeu de Futebol em Portugal, num período em que o nosso País viveu mais intensamente o fenómeno futebolístico e as “conversas de café” à volta da bola foram muitas e emotivas.
A forma como se falava da fase de grupos - o receio de falhar, as “contas de cabeça” (principalmente porque Portugal tinha entrado com uma derrota frente à Grécia e qualquer deslize nos dois jogos seguintes poderia impedir a Selecção de seguir para a fase de eliminação directa), os riscos assumidos… - tudo preocupava o comum “espectador/treinador de bancada”, mais habituado a uma competição futebolística organizada em formato de campeonato, onde, mais à frente ou mais atrás, se podem sempre corrigir os erros e recuperar alguns pontos perdidos, sem ser afastado da competição.
Ora para um Esgrimista, que é um dos poucos desportistas que não conhece outro estado competitivo que não seja estar na condição de “eliminável” desde o início ao fim de uma prova, o problema que o comum “espectador/treinador de bancada” vive com tanta ansiedade nestas fases finais futebolísticas não se põe.
A realidade é que, se analisarmos bem estas situações, o que verdadeiramente nos preocupa é… a margem de erro, ou melhor, a falta de margem de erro.
Porque foi tão assumido neste Mundial de Futebol que o jogo decisivo para Portugal seria o primeiro, frente à Costa do Marfim?
De forma nenhuma pretendo criar generalizações e, muito menos, criticar o treinador da Selecção, até porque, mesmo na minha condição de treinador de bancada (legitima a qualquer ser humano), reconheço competência muito superior à minha, a qualquer treinador nas funções para as quais está habilitado por formação própria (aliás, sem essa formação não teriam carteira de treinador que lhes permitisse exercer a profissão). O que pretendo é analisar a estratégia e, se possível entendê-la (pelo menos entendê-la à minha maneira).
Queiroz fez questão de reforçar, muitos dias antes do início do Mundial, que a grande final para esta primeira fase era o primeiro jogo. É verdade que se tratava do adversário directo para a qualificação mas… também é verdade que era o adversário directo para a qualificação… no segundo lugar do grupo.
Resolver a qualificação nos dois primeiros jogos e, essencialmente, a partir de uma primeira “não derrota”, foi uma estratégia importante, retirando pressão do jogo frente ao Brasil, tornando-o um jogo não decisivo. Na prática tratou-se de construir uma margem de erro para o embate final.
A estratégia correu bem. Tão bem que, com margem de erro para falhar, o jogo mais difícil acabou por ser, nos 90 minutos, um confronto de igual para igual. Um confronto que, segundo os analistas desportivos, até acabou por estar mais para o lado de Portugal do que do Brasil, fazendo do empate um resultado até “curto” face ás oportunidades criadas.
E se o jogo do Brasil acabasse por ser mesmo um jogo decisivo? Um jogo sem margem de erro para falhar? Será que a confiança não estaria abalada logo à partida uma vez que a margem de erro era nula e a sua construção tinha sido o objectivo principal da estratégia psicológica na abordagem à fase de grupos?
Pois não sei. Mas sei que a habituação a uma margem de erro pode ser uma “armadilha” para a nossa auto-confiança.
Devemos confiar na nossa capacidade ou na incapacidade do outro?
Devemos confiar na nossa capacidade ou na possibilidade de falhar sem prejuízo imediato?
Devemos confiar na nossa capacidade ou protegê-la com margem de erro?
A meu ver, tão conscientemente quanto possível, devemos construir a nossa confiança com base na consistência dos nossos pontos fortes e no conhecimento das nossas fraquezas.
Aprender a não ter medo de falhar, quando reunimos tudo o que está ao nosso alcance para o sucesso, independentemente do resultado final.
3 vitórias e 3 derrotas é um bom desempenho numa poule (grupo na fase inicial de uma prova de esgrima constituído por 7 jogadores). O importante é consegui-lo quer quando iniciamos com 3 vitórias e 0 derrotas, quer quando iniciamos com 0 vitórias e 3 derrotas.
Na Esgrima, Futebol, Escola, Emprego, assim como na nossa vida pessoal, há que saber estar preparado para enfrentar os problemas com confiança e determinação.
Com ou sem… Margem de Erro.
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