Regressando da Assembleia Geral da noite passada fui pensando como a Esgrima tinha juntado ao longo dos anos algumas daqueles pessoas, transportando-as desde os tempos de atletas nos Circuitos Juvenis, até à responsabilidade de enquadramento de Salas de Armas.
Á minha frente tinham estado dois "companheiros de criação", Filipe Melo e Miguel Machado, que conheci pelas mãos da Esgrima numas longínquas provas de Cadetes no Pavilhão do Vilanovense em Gaia.
Nesses tempos em que praticamente não se competia no estrangeiro eram os Circuitos Jovens organizados pela FPE, com deslocações e alojamentos conjuntos de todos os atletas, que nos proporcionavam momentos de convívio e nos quais conheci o Miguel e o Filipe e os restantes elementos do Quarteto do Norte, Ricardo Oliveira e Aderito Faustino. Este último, apesar de floretista como os restantes, teimava em participar nas provas de espada "roubando-nos" uns quantos títulos. Com eles, sempre o saudoso Mestre Castanheira com quem aprendi inúmeras anedotas.
Hoje as nossas vidas voltam a cruzar-se a nível profissional. Com formação no âmbito da Educação Física e Desporto mantivemo-nos ligados à Esgrima promovendo o ensino da modalidade e, no caso deles, com funções também na arbitragem internacional.
Agora com outras responsabilidades é engraçado observar o entusiasmo e empenho de todos nos projectos da esgrima. Afinal, o mesmo entusiasmo e empenho com que participávamos nos Circuitos no Vilanovense.
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Criei este espaço - O Diário - com o intuito de reflectir sobre a Esgrima procurando sempre o lado positivo das coisas, objectivo que retardou o aparecimento deste texto referente aos acontecimentos do início da semana.
A notícia publicada neste site no dia 10 de Janeiro sob o título "Lamentável..." foi talvez a que mais me custou desde o início deste projecto, não pelo acontecimento em si - não autorização da participação de um atleta a custo próprio numa Taça do Mundo respeitando todas as premissas definidas pela FPE para estas situações - mas pela forma como tudo se passou e essencialmente pelo acumular de situações anómalas enquadradas por Regulamentos e Princípios que oscilam livremente entre o - Inalterável, Adaptável e Contornável.
No início da temporada, com 6 atletas propostos para integração no Centro de Treino de Lisboa dada a sua condição de elementos das Selecções Nacionais ou em condições de as integrarem, enviámos à FPE o Plano Anual de trabalho, já que os atiradores pretendiam ter o seu treino enquadrado pelas condições do Clube.
Solicitávamos assim a "validação" do trabalho a executar, garantindo aos atletas as condições de apoio previstas pela FPE face ao seu nível de rendimento.
Na sequência deste processo realizámos uma reunião com a FPE onde estiveram presentes os Atletas, seus Pais, eu como Treinador e responsável do seu enquadramento, a Direcção da Federação e o seu Departamento Técnico, para debater o documento apresentado.
Dessa reunião resultou o reconhecimento por parte da FPE da qualidade do trabalho e das condições para êxito do mesmo, excluindo no entanto os atiradores dos apoios de material e bolsas correspondentes, à luz de um Regulamento Inalterável que prevê criar condições para o desenvolvimento dos melhores atletas mas, apenas se estes treinarem no Centro de Treino.
Os pontos de compensação nas provas de seniores para atletas ausentes ao serviço das selecções, já alvo de uma reflexão sob o titulo - Matemática 15 / Esgrima 14 - introduziu o conceito - Adaptável - nos Regulamentos existentes já que expandiu, numa fase intermédia, uma regra dos Juniores para os Seniores vindo até a culminar na criação de uma regra nova eliminando a adaptação efectuada.
Reservada para esta semana estava o Contornar dos Regulamentos, inviabilizando a participação de um atirador numa Taça do Mundo em condições que cumpriam todas as premissas da FPE.
Quando a meio desta semana, ao serviço das funções que desempenho na Escola onde trabalho, me desloquei a uma turma para conversar com as alunos sobre alguns problemas que estavam a acontecer, deparei-me com uma intervenção interessante. Dizia a aluna:
"...mas os Professores têm a faca e o queijo nas mãos. Nós até podemos ter razão, mas eles depois fazem o que querem e para nós é que vai ser pior..." E eu, que estava na presença da Directora de Turma, disse-lhe:
"... já reparaste que para isso ser verdade nós todos temos que ser um bando de mal feitores? Se um professor procede mal contigo e isso vai acontecendo de forma continuada, para que nada se possa mudar é necessário que quando fales com a Directora de Turma ela não faça nada, que perante o conhecimento do Conselho Executivo este não faça nada, quando os teus Pais se queixarem ao Ministério da Educação este não faça nada. E mesmo que alguém te queira ajudar, para que nada mude ainda é necessário que os teus 23 colegas digam que tudo é mentira e não se passa como tu dizes."
Espero que a Esgrima não esteja na posição desta aluna e muito menos enquadrada por este cenário fictício que criei para lhe demonstrar como a sua análise estava errada.
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O Toque é de facto a essência do jogo. É com ele que se constróem as vitórias e é à custa dele que se amargam as derrotas.
Lembro-me de uma prova em Heidenheim, uma das mais importantes Taças do Mundo de Espada Masculina de todo o Circuito Mundial, onde o atirador da Estónia Kaaberma se sagrou vencedor, tendo passado a fase de poules com apenas 1 vitória e com um diferencial entre toques dados e recebidos apenas 1 toque acima do último dos eliminados.
Cada Toque tem a sua importância e a sua construção deve assentar numa estratégia que favoreça as características técnicas do atirador, dificulte a oposição do adversário e dê resposta às necessidades do momento na prova.
Sempre fui um defensor da estratégia, pois considero que foi ela que me permitiu como atleta desempenhos de nível superior ao meu domínio técnico.
Quando jogava sentia grandes dificuldades nos assaltos de eliminação directa, pois como são jogados a 15 toques num período máximo de 9 minutos, carecem de uma consistência de jogo que faça frente às qualidades dos opositores e às constantes alterações que este execute consoante a marcha do resultado.
Foi então que comecei à procura de soluções para tornar os jogos de 15 toques "mais curtos". Decidido a "encurtar" o tempo e os toques em disputa iniciei a construção de uma estratégia de base assente no seguinte objectivo - Retardar o aparecimento dos primeiros toques no jogo e arriscar na obtenção de uma pequena vantagem à entrada dos últimos 3 minutos de jogo. Com esta estratégia estava convicto que aumentava a pressão sobre o adversário ao dar-lhe menos tempo para a recuperação, aumentando os seus erros pelo facto de ter que preparar as acções de uma forma mais rápida.
Do meu lado ficava a pressão de disputar os jogos todos com margens mínimas no resultado, muitos deles num toque decisivo. Sabia também que para retardar o aparecimento de toques teria que trabalhar de forma muito activa no jogo com grande exigência física, pois se tomasse uma atitude passiva só conseguiria "congelar" os dois primeiros terços do jogo se o meu adversário assim o quisesse.
Não pretendo defender esta estratégia como mais ou menos correcta do que outras, mas sim mostrar a importância que a estratégia de jogo, na qual o tipo de toques utilizados foram apenas "uma peça" do sistema, teve no meu desempenho.
A cada atirador cabe construir a sua estratégia e adaptá-la em função do objectivo de cada jogo. Eu tive a felicidade de construir a minha em conjunto com o Mestre Horvath... e os toques que fomos utilizando estavam sempre ao serviço de uma estratégia de jogo.
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