O Amigo do Primo do Cunhado. Versão para impressão

 

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   Todos conhecemos aquela famosa expressão – “ Há um amigo do primo de um cunhado meu…” – utilizada normalmente quando queremos abordar alguma situação que não nos correu de feição ou sobre a qual não estamos seguros do juízo de valor que os outros irão fazer.

 

 

   Pois eu também conheço “um amigo do primo de um cunhado meu” que está agora algures na Europa a estudar e que resolveu entrar numa prova de esgrima. Já na fase de eliminação directa entrou mal no jogo e viu-se a perder por 3 toques logo no início com um desfavorável 1/4. O tempo foi passando e a diferença nunca diminuiu mais do que 2 toques, encontrando-se novamente a 3 toques com 7/10. Foi nesta fase que “o tal amigo do primo do meu cunhado” conseguiu alterar a estratégia de jogo e igualar a 10/10. Movido pela necessidade de reduzir distância no marcador, já que este se aproximava dos 15 toques finais, conseguiu concentrar-se ao máximo e tomar as melhores decisões. Quase sem dar por isso (o amigo do primo do meu cunhado), relaxou um pouco com o empate, como se a tarefa estivesse cumprida (a recuperação) e em pouco tempo estava de novo em desvantagem 10/12. Um novo esforço (com o objectivo novamente definido pela desvantagem e pelo aproximar do desfecho final) e… 12/12. Novo expirar de alívio e… 12/13, 12/14 e… afastado por 13/15 com um simultâneo a fechar.

 

    Este fenómeno acontece muito frequentemente na esgrima. A desvantagem dá-nos a consciência e a determinação da tarefa – recuperação – mas a igualdade dá-nos uma espécie de “momento de pausa” onde sentimos que o toque seguinte não tem um peso determinante e como tal jogamo-lo sem a mesma determinação com que lutamos por anular uma desvantagem.

 

   Por diversas vezes falamos destes aspectos do jogo nos treinos, pelo que estamos mais conscientes e preparados para este tipo de situações. Quanto ao “amigo do primo do meu cunhado”… conto relembrar-lhe estes pormenores na próxima vez em que estivermos juntos.