Outra vez no início... Versão para impressão
Dentro de uma semana vamos a Madrid jogar uma prova do Ranking Espanhol.
Enquanto informava alguns dos nossos jovens que contava levá-los a este torneio, observava as suas expressões de satisfação por esta primeira oportunidade de participar numa prova fora de Portugal e lembrei-me dos meus primeiros passos...
A primeira vez que cruzei a fronteira para fazer esgrima foi na companhia do meu amigo Carlos Frederico, que conduziu uma carrinha emprestada já não sei bem por quem levando-me juntamente com a Isabel Quina Ribeiro e o seu Pai até Logronho para uma prova do Ranking Espanhol. Estávamos então na época de 1988/89 e o entusiasmo era mais que muito.
Da minha prestação pouco me lembro mas não esqueço todos os pormenores de uma final disputada entre o Peña e o Pereira, este último com uma esgrima fantástica de punho Francês moldada pelo Mestre Horvath, estilo esse que o Mestre Grave dos Santos procurava adaptar para mim.
Pereira era um jogador de baixa estatura, com uma guarda pouco comum muito inclinado sobre a perna da frente, sempre em movimento na pista, ameaçando constantemente o seu adversário em todas as zonas possíveis e imaginárias. Concluía muitos toques ao pé, utilizava a flecha como finalização principal e "disparava" uns contra-ataques com esquiva com os quais surpreendia os ataques dos seus opositores.
Ali tive oportunidade de ver ao vivo o modelo que pretendia "copiar" e admirar de perto o Mestre criador de tal sistema. Nem eu imaginava que um dia teria como treinador o próprio Mestre Horvath, dando continuidade ao trabalho iniciado pelo Mestre Grave dos Santos.
Pereira viria nessa mesma época a sagrar-se Campeão do Mundo, e se duvidas tivesse neste estilo de jogo ficava ali inequivocamente demonstrada a sua eficácia.
Daí em diante as provas Espanholas não mais deixaram de fazer parte das nossas épocas desportivas. Numa altura em que ainda pouco se saía ao serviço da Selecção Nacional, principalmente nos escalões de Cadetes e Juniores, era a nossa vontade de evoluir que reunia os carros dos mais velhos, os farnéis preparados pelas mães e uns trocos para a pensão e nos levava para mais uma jornada Ibérica.
Estas competições são fantásticos momentos de convívio, onde as pessoas partilham as suas histórias ao longo da viajem e se conhecem cada vez melhor. Onde têm oportunidade de jogar provas com mais de 100 atiradores, em ambiente internacional, numa mescla de jogadores de Elite, jovens promessas, ou simples praticantes de todas as gerações.
Estas provas são o início de uma nova etapa que vai muito para além dos aspectos desportivos. Poder proporcionar esta experiência aos novos atiradores da minha Sala é uma sensação muito agradável e transporta-me até lá bem atrás, onde tive a felicidade de ter por perto pessoas que me proporcionaram esta experiência.
Afinal, é como se estivesse outra vez no início.