Era uma vez um envelope fechado que hoje… se abriu. Versão para impressão
Diário do Nuno
Escrito por Nuno Frazão   
Domingo, 24 Abril 2011 22:17

Já passaram uns anos desde que um grupo de miúdos, já grandes, recebeu um envelope para cada um, à saída para uma competição internacional.

envelopeDo lado de fora, escrito à mão, cada um deles encontrava dois ou três conselhos técnicos específicos. Para uns a lembrança de defender com pernas, outros o controlo do ritmo, outros as marcações, etc., etc.

Quanto ao que estava no interior, os miúdos, já grandes, foram informados que era algo que os poderia ajudar quando estivessem perante uma dificuldade ou conjunto de dificuldades, no entanto, só deveriam abrir o envelope e recorrer à ajuda caso sentissem que não poderiam resolver a situação por si próprios.

O objectivo do envelope, para além dos conselhos práticos do seu exterior, não era criar uma “muleta” artificial, mas, pelo contrário, incentivar cada um dos miúdos, já grandes, a procurar em si próprio as soluções para as adversidades com que se cruzava.

Regressados do fim de semana, todos vinham satisfeitos com a não abertura do envelope, pelo que decidimos manter os envelopes no saco (enquanto cada um o entendesse).

Raras vezes se falou dos envelopes, raríssimas mesmo mas… eles mantinham-se nalguns sacos (provavelmente em todos).

Se tivessem aberto o envelope, respeitando as condições iniciais para o fazerem – “… caso sentissem que não poderiam resolver a situação por si próprios.” – teriam encontrado uma folha dobrada com um poema escrito que iniciava assim:

“Os meus olhos são uns olhos,

e é com esses olhos uns

que eu vejo no mundo escolhos,

onde outros, com outros olhos,

Não vêem escolhos nenhuns.”

 

E terminava assim:

 

“Inútil seguir vizinhos,

querer ser depois ou ser antes.

Cada um é seus caminhos!

Onde Sancho vê moinhos, D. Quixote vê gigantes.

 

Vê moinhos? são moinhos!

Vê gigantes? são gigantes!”

Caso abrissem o envelope, respeitando as condições iniciais para o fazerem – “… caso sentissem que não poderiam resolver a situação por si próprios.” – o que encontrariam para os ajudar era o reforço de que a resposta estaria neles próprios.

Uma resposta que, segundo as palavras de António Gedeão em Impressão Digital, era mais do que a simples aplicação das capacidades para resolver o problema. Era uma resposta que começava na forma de olhar o problema, pressupondo que ele até podia não existir, passava pela dimensão do problema, associando-a à convicção das nossas capacidades para o enfrentarmos  e culminava na individualidade da solução, colocando-a ao alcance de todos, cada um à sua maneira.

Hoje, o grupo de miúdos, já grandes, recebeu a indicação para abrir o envelope (caso ainda não o tivesse feito) ficando a conhecer o teor da ajuda que transportaram por esse mundo fora e que, ao manter-se fechada, entreaberta ou mesmo aberta lhes terá permitido olharem para si próprios na gestão das forças e fraquezas consolidando o seu auto-conhecimento.

Se cada um deles conseguir agora identificar e compreender os sentimentos que teve ao longo deste tempo, nos momentos em que sentiu vontade de abrir o envelope, e entender por que não o fez ou, porque o fez, e cruzar essa informação com o que lá estava escrito dentro, então o envelope terá completado na plenitude todo o seu propósito.

Porquê a indicação para abrir agora?

Porque o grupo de miúdos, já grandes, é hoje um grupo de… Grandes Miúdos, prontíssimos a enfrentar a conclusão Académica, entrada no Mundo Laboral, esgrimir Sentimentos e, claro, a perseguir o Seu Sonho Olímpico se… aceitarem que caminhar nestes percursos depende de si próprios, enfrentando moinhos e gigantes com as suas forças e fraquezas, aprendendo com cada passo…

… sem esquecer que o resultado final é apenas a “cereja no topo do bolo”. A verdadeira riqueza encontra-se no caminhar.