Atleta de Alto-Rendimento Versão para impressão
Diário do Nuno
Escrito por Nuno Frazão   
Sábado, 28 Abril 2012 19:28

               Sem querer de forma alguma subestimar a ambição de todos os Atletas (os que conheço e os que não conheço, os Esgrimistas e os não Esgrimistas) alimentados pela chama de atingir o sucesso, senti necessidade, neste período pré Olímpico onde  por incrível que pareça é o momento de maior insucesso desportivo Mundial, tal a discrepância entre o número dos que alcançaram um lugar entre a Elite Olímpica e os milhares que lutaram este ano por alcançar os resultados que os colocariam nessa mesma Elite (com valor para o conseguirem), reforçar aquela que considero ser a verdadeira chama de todo este processo – a ambição de Tentar.

                Pode até parecer redutor, ser movido pelo – Tentar -  e não pelo óbvio – Conseguir – ou até mesmo parecer uma defesa prévia para o caso de não atingirmos o sucesso pretendido, mas garanto-vos que não o encaro dessa forma.

                O que não posso aceitar, pelo menos enquanto admirar o Desporto da maneira que o sinto, é que este mesmo Desporto possa deixar nos heróis que se dispuseram a vivê-lo com intensidade um sentimento de “frustração”, “incapacidade” e derrota.

                É verdade que quando mais capazes somos, mais vezes vamos “falhar”. Na Esgrima então esta frase é mais verdadeira do que em qualquer outra modalidade. Tocamos os lugares cimeiros pela primeira vez e logo entramos com todos o direito para o conjunto de 10, 20, 30 jogadores (se considerarmos o plano internacional) que podem ocupar esses lugares da frente, ficando à mercê das evidências matemáticas que rapidamente demonstram que não cabem todos num funil tão estreito de excelência.

                É este o verdadeiro desafio do Atleta de Alto-Rendimento. Estar disponível para pertencer a um grupo mais amplo que lutará por um resultado mais restrito. Estar disponível para falhar… enquanto Tenta alcançar.

                O Atleta de Alto-Rendimento tem na luta pelos seus objetivos a sua verdadeira excelência e, esta, não pode ser posta em causa (muito menos por si próprio) pelo simples facto de não ter atingido o resultado ambicionado.

                É este Tentar (o verdadeiro Tentar, aquele em que se chora de alegria e de tristeza com Sonhos, Performances, Amizades…) que constrói nos Atletas, Homens e Mulheres fantásticos capazes de caminhar a Vida de frente.

                É o valor do Tentar (para quem concordar com esta opinião) que deve também ser “ensinado” aos Atletas, a par da Técnica e da Tática, para que o Resultado, que no Desporto muitas vezes até está longe de ser “justo” (e não falo de nenhum tipo de “injustiça” vinda de fatores externos), não seja a principal chama do seu Sonho e que esta se mantenha sempre acesa (mesmo nos momentos mais difíceis) enquanto o Atleta quiser continuar a Tentar.

                Para nos deixar a pensar, aqui fica a forma como o espadista Sueco Johan Harmenberg, Campeão Olímpico em 1980, ilustrou o percurso do Atleta de Alto-Rendimento enquanto tentava lidar com um sucesso (Campeão Olímpico) que, sendo a sua principal chama, o deixou mergulhado num… vazio. (E para que possam interpretá-lo sem qualquer interferência aqui o transcrevo na versão original em Inglês retirada de – Epee 2.0 – The Birth of the New Fencing Paradigm – SKA SwordPlay Books – 2007).

“Let me sum it up in a little story:

 You are a Child running down a road with lots of friends . It is  not a race, it is just for fun. It is easy running and you do not get tired. It is pleasant, sunny weather, and you run together with your best friends. Further down the road is a door that is closed but seems to be interesting. What can be behind it? The gang of youngsters reach the door, open it without effort and find a new road, so they keep running. You pass door after door and behind each one you find a new road.

After a while, you are still running, but you are not a child anymore, so you look around. There are fewer people now running with you. They do not look that friendly anymore. The road is narrower and the running is not that easy or pleasant. You look for the next door, a big one. Maybe there is an interesting answer behind it. But leading to it is a narrow path leading to a secret door at the top of a hill. That must hide something really worth knowing. You open it – only to look out at a golden door on top of a mountain.

This time, there is no path and the terrain is totally uncharted. Deep inside your heart, you sense that this is the last and final door and behind it you will find happiness and the meaning of life. You start running up the mountain. The weather is cold and the wind is against you. You are all alone as you fight your way to the last and final door. You open it and jump through and find… nothing. You keep falling without ever reaching the ground.”

 

                Que o Conseguir seja, apenas, um extra do TENTAR. Porque o Atleta de Alto-Rendimento é, e será sempre… um CAMPEÃO (e não pode nunca ter dúvidas disso).